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Ansiedade infantil

 Entrevista cedida pela psicóloga Marisa de Abreu para Revista Máxima

Crianças também sofrem de ansiedade

Como a ansiedade se manifesta nas crianças?

Crianças podem ser ansiosas tanto por característica de sua personalidade como por consequência de eventos fortes em suas vidas como frustrações, sustos, etc.

Os sintomas podem ser choro sem explicação, acordar no meio da noite com sobresalto, reações abruptas a pequenas coisas, mudanças nos hábitos alimentares,  “manhas”,  apego exagerado com um dos pais, medos sem sentido, etc.

Sinais de que a criança precisa de ajuda com a ansiedade

Estas são as chamadas “ansiedades boas”, esperar ansiosamente pela festa a prepara a criança para lidar com as situações da festa. Não é necessário intervenção para estes casos. Mas para crianças que apresentam os sintomas mencionados na pergunta acima é necessário conversar com a criança, oferecer acolhimento e caso os pais não consigam ajuda-la procurar um psicólogo.

O que causa essa inquietação

A vontade de ser  aceito, de fazer as coisas bem feitas, de não errar, de perder a festa, de não dar tempo para brincar, etc, tudo isso causa inquietação – que em níveis mais elevados passa ser chamado de preocupação, medo ou pânico, conforme a intensidade.

Como ajudar a criança

Identificando qual é a cognição , ou seja o que ela pensa que a deixa ansiosa, qual seu medo, e mostrar que há caminhos que podem ser trilhados passo a passo e que não há problema algum em errar pois a vida é feita de aprendizados. Caso os pais não consigam sozinhos um psicólogo infantil pode ajudar.

Ajude seu filho a lidar (e crescer!) com grandes perdas ou mudanças.

Muitas vezes, a morte de um bichinho de estimação ou a perda de um avô podem atrapalhar o desenvolvimento da criança e até o aproveitamento escolar. É possível preparar a criança para resistir e superar esse tipo de trauma.

a) Morte de um parente ou amigo.

Psicóloga: Mais importante do que as palavras a serem ditas é o como colocar para criança. O tom de voz deve ser de acolhimento mas não de extrema dor pois a criança pode interpretar que esta situação é impossível de ser superada. Acolher significa respeitar o sentimento da criança que algumas vezes pode surpreender pelo fato de não haver muita demonstração de sofrimento – pode até ser que a criança já esta considerando o fim da vida como algo natural, pode ser que ela ainda não tenha entendido as implicações e significado da morte ou pode ser que esteja “engolindo” sofrendo sozinha com conseguir compartilhar.  Reconhecer  o sentimento da criança é uma arte a ser desenvolvida.

A religião pode ajudar numa situação desta. Caso a família tenha alguma crença este é um momento importante para iniciar o entendimento da morte em sua religião.

Insisto em afirmar que a postura dos pais é mais importante do que as palavras que devem ser ditas – o próprio exemplo será fundamental, a criança aprenderá muito a lidar com a morte e seguirá reproduzindo a postura dos pais.

Rituais são importantes. Convidar a criança a participar da missa, das orações, dos momentos onde lembrarão dos bons momentos vividos com aquele parente que morreu ajuda a lidar com esta passagem.

b) Morte de um bicho de estimação.

Psicóloga: Idem acima pois para criança pode não haver muita diferença da carga emocional envolvida em perder um amigo e seu animal de estimação.

c) Mudança de cidade.

Psicóloga: Deve-se explicar o porque e para que esta mudança está ocorrendo. Incluir na conversa o quanto esta mudança é importante para os pais e tudo o que pode-se tirar de bom desta oportunidade como por exemplo conhecer novos amigos, ir para um  local onde o clima seja mais favorável, etc.

d) Mudança de escola.

Psicóloga: Idem resposta  acima. Pois trata-se de mudanças que afetarão a rotina, o ambiente, etc.

e) Separação dos pais.

Psicóloga: Deixar bem claro que mesmo que não seja possível que as coisas continuem 100% iguais os pais tentarão de tudo para que sua vida não seja tão afetada. Explicar, na medida do possível e do que seria razoável conforme a idade da criança, os motivos da separação deixando claro que a responsabilidade por isto não é da criança – não mencione esta frase pois os pais poderão sugerir uma ideia que não necessariamente viria a mente da criança.

1. Grandes lições dos contos de fadas

A comercialização e apropriação dos contos de fadas pela Walt Disney mudou o rumo dessas tradicionais historias. Com o objetivo de torná-los produtos rentáveis e politicamente corretos, os editores da produtora norte-americana adaptaram as histórias e, muitas vezes, modificaram o final. Sabe-se que os contos dos Andersen ou Grimm tinham como principal objetivo a famosa “moral da história” que serve como lição o leitor.

O livro “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, de Bruno Bettelheim, procura fazer uma reflexão sobre alguns deles e a importância dessas histórias como instrumento benéfico ao desenvolvimento das crianças: “… a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida.”, afirma o autor.

a) Como os Contos de Fadas conseguem estimular o inconsciente humano? Porque isso é bom?

Psicóloga: Contos de fada estimulam a criatividade, a imaginação e a capacidade de perceber como possível situações que não são concretas. Isto é fundamental para um adulto produtivo, pois ser eficiente em qualquer atividade implica em conseguir ver o que ainda não está sendo visto pela maioria e ter a coragem de experimentar e sentir muitas possibilidades (não é mera coincidência que um adulto bem sucedido realiza tarefas que são até ridicularizadas por outros mas que no final se revelam muito produtivas – esta coragem é, em parte, desenvolvida nas atividades infantis onde a criança a auto estima é desenvolvida vivendo a princesa, o sapo, o rei, o lutador, etc).

Além dos benefícios da fantasia por si só a “moral da estória” acrescenta mais elementos à formação da criança. Pois as crianças aprendem muito mais com exemplos do que com regras e imposições e ao verem seus heróis das estórias chegarem a certas conclusões, estas conclusões serão automaticamente introjetadas em seu caráter.

Contos de fadas podem contribuir para o crescimento da criança:

a) Pinóquio

– Filhos devem obedecer os pais

Psicóloga: As crianças nascem com a sensação de que não há consequências no mundo e, educar implica essencialmente em mostrar que cada ação tem uma consequência. Se subir no armário irá cair e machucar – devemos evitar isso. Se deixarmos que as crianças aprendam apenas sentindo na pele as consequências teremos crianças com muitas cicatrizes inúteis, por isso ensinar obediência é fundamental – ver seu herói Pinóquio aprendendo obediência  economiza algumas “ladainhas” que seriam feitas em casa pois há boas chances de que a criança repita a atitude do Pinóquio obediente.

– Mentira tem perna curta

Psicóloga: Mentir é uma tentação para a criança. Logo ela aprende que se trata de uma forma de “encurtar muitos caminhos”. É essencial que ela aprenda a confiar em seus pais e lhes colocar a par de tudo o que acontece. Ela terá tempo para depois identificar em quem confiar e o quanto se pode ser sincero com cada um.

– Os perigos de andar sozinho na rua

Psicóloga: Será uma decepção descobrir que há muita gente mal intencionada no mundo e que a criança é muito indefesa, mas este é um aprendizado essencial para sobrevivência.

– Os perigos de dar ouvidos a estranhos

Psicóloga: Como gostaríamos de mostrar um mundo totalmente confiável a nossos filhos, mas esta dura realidade deve ser apresentada o quanto antes.

b) Chapeuzinho Vermelho

– Não se engane pela aparência das pessoas

Psicóloga: Este aprendizado é a base da eliminação do preconceito. Imaginar que alguém é bom ou ruim por ser feio ou bonito trará muitos mal entendidos.

c) A Bela Adormecida

– O amadurecimento vem com o tempo.

Psicóloga: Crianças não gostam de esperar. Toda criança pequena pergunta de minuto em minuto se o bolo que acabou de entrar no forno já está pronto. Além disso ela não sabe que não sabe – por isso esta frase ficou famosa “tudo o que sei é nada sei”. Saber que ainda há muita coisa para aprender trará humildade e aumentará a capacidade de aprendizado pois só aprende aquele que aceita que não sabe , o que imagina que sabe tudo não permite que novos conhecimentos sejam adquiridos.

– Com coragem e determinação, é possível superar os obstáculos para atingir um objetivo

Psicóloga: É fundamental que o aprendizado referente a existência dos obstáculos seja acompanhado do aprendizado de que obstáculos são superáveis, apesar de cobrarem um preço para isso (coragem e determinação) trata-se de um preço que vale muito a pena.

d) Cinderela

– Inveja

Psicóloga: É natural e até saudável querer algo bom que vemos nos outros, o que não é saudável é querer ou até mesmo tentar destruir o que o outro tenha de bom.

– Exploração do trabalho dos outros

Psicóloga: Queremos e fazemos de tudo pelo nosso bem estar. Todo bebe é um pouco “déspota” pois desde que nasceu gritou, chorou e teve tudo o que quis. Com seu amadurecimento ele vai aprendendo a conseguir as coisas pedindo por favor ou conseguindo pelo seu próprio esforço.

– Bullying das meias-irmãs com a Cinderela.

Psicóloga: Identificar a fragilidade do agressor , que sempre é um inseguro, imaturo ou tem seu caráter desvirtuado, é um passo para aprender a auto defesa, o outro é saber como não se sentir inferior e não acreditar que merece menos apenas porque alguém lhe disse isso.

– Viver uma falsa realidade (à meia-noite tudo volta ao normal)

Psicóloga: Fantasia é bom mas tem seu limite, uma hora a realidade deve ser encarada com aceitação e compreensão de nossa capacidade em lidar com ela.

e) Branca de Neve

– Inveja

Psicóloga: Idem inveja no conto Cinderela.

– Vingança

Psicóloga: Uma forma primitiva de auto defesa é a vingança. Alimentar este sentimento colocando em pratica atos que até darão satisfação imediata fará com que os sentimentos de ira sejam perpetuados. Se queremos eliminar a ira devemos “virar a página” e perdoar no sentido de nos livrarmos da prisão que nos faz sentir necessidade de continuar mantendo contato com o agressor (através de atos de vingança).

– Ajuda ao próximo (dos anões que acolheram Branca de Neve)

Psicóloga: Esta sensação é fundamental para criarmos uma criança que valoriza o trabalho em conjunto e a compaixão.

Vanessa Vilas Boas

Psicóloga Clínica, Terapeuta Cognitiva Comportamental.

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